1. O Renascimento do Comércio
Com a reabertura do mar
Mediterrâneo, ocorreu a rearticulação do comércio europeu, e as cidades
italianas foram as mais favorecidas. Apoiadas na posição geográfica favorável e
no fortalecimento de suas ligações comerciais com o Oriente, as cidades
italianas conseguiram a prioridade na distribuição dos produtos orientais
(especiarias) por toda a Europa (rota do Mediterrâneo). Na Europa nórdica, o
comércio teve seu maior desenvolvimento na região dos mares do Norte e Báltico
e, sobremaneira, em Flandres (tecidos/lã).
O crescimento do comércio na
parte meridional e setentrional do continente europeu possibilitou a interação
entre essas regiões, por meio de rotas comerciais (terrestres/fluviais). Dessa maneira,
promovendo a navegação por rios, como o Reno, o Danúbio e o Ródano, os
comerciantes organizavam as feiras, que se tornaram os primeiros locais de
comércio (temporário).
Por volta do século XIV, as
mais expressivas feiras foram realizadas em Champagne (França), região situada
no coração da Europa ocidental. Nesses pontos de comércio temporário, os mercadores
nórdicos podiam comercializar tecidos, peles, madeira, mel e peixes com os
mercadores italianos, detentores do monopólio oriental (especiarias).
Esse desenvolvimento da
atividade comercial propiciou o ressurgimento das finanças, com a volta da circulação
monetária, do crédito, das letras de câmbio, enfim, estimulando as atividades
bancárias. Nesse processo, a riqueza latifundiária (terra) perdia a supremacia
e surgia um novo segmento social, os comerciantes.
Durante o século XIV (peste,
fome e guerra), o comércio das feiras de Champagne passou por um período de
profunda crise, em conseqüência da conjuntura criada pela Guerra dos 100 Anos
(1337-1453), entre França e Inglaterra, e da difusão da peste negra.
Em função dos problemas que
afetaram a região de Champagne, Flandres conseguiu um grande desenvolvimento
comercial. Saindo pelo interior na rota fluvial do rio Reno, ou pelo
Mediterrâneo, passando por Gibraltar e depois rumo ao Atlântico – mar do Norte
– os comerciantes, principalmente os italianos, contribuíram para desenvolver
os portos de toda a Europa.
Por volta do século XII, surgem
as ligas, também chamadas de hansas, que se tornaram importantes coligações de
cidades medievais. Reunindo uma grande diversidade de atividades e produtos,
conseguiram realizar o comércio em alta escala.
As mais importantes rotas foram
as inglesas, flamengas e a teutônica (Liga Hanseática).
As hansas tiveram fundamental
importância na dinamização dos mercados e das cidades medievais. Sua atuação,
baseada no lucro e acúmulo de capitais, denotava o pré-capitalismo que levaria
à grande Revolução Comercial (séculos XV e XVI).
2.
O Renascimento Urbano
Na
Baixa Idade Média, com o surgimento e crescimento da classe mercantil, foi
sendo estabelecido gradualmente um estilo de vida urbana baseado não mais nos
estamentos sociais feudais, mas sim na sociedade de classes.
Por
volta do século XIV, as vilas e cidades eram compostas por uma população cada
vez mais dedicada ao comércio e artesanato. Grande parte dos centros urbanos florescia
a partir das antigas vilas e cidades, contudo, em regiões estratégicas
(castelos, abadias, rios, estradas, etc.), a partir das rotas e feiras,
multiplicando-se novos centros urbanos.
Os
chamados burgos, nome dado a essas cidades medievais, resultaram do fato de
muitas delas serem fortificadas (amuralhadas). As muralhas que as rodeavam
tinham por objetivo maior resguardar e proteger seus habitantes, os burgueses.
Embora
tivessem uma relativa liberdade de atividades mercantis e artesanais, as
cidades medievais estavam localizadas em territórios feudais, portanto, viam-se
sujeitas à autoridade dos nobres ou senhores feudais; os burgueses eram
obrigados a respeitar as leis locais e a pesada tributação.
Com o
desenvolvimento comercial e o crescimento econômico-social da burguesia, essas
cidades passaram a buscar maior autonomia e independência.
Essa
luta pela emancipação das cidades medievais estendeu-se do século XI ao século
XIII e passou para a história com o nome de movimento comunal.
A
independência dos centros urbanos, quando conquistada por caminhos pacíficos,
dependia, na maioria das vezes, do pagamento de indenizações aos senhores
feudais.
Em
outras situações, quando os senhores feudais resistiam às mudanças, as cidades
buscavam no rei, em processo de fortalecimento, o apoio político-militar (luta
armada).
De
qualquer maneira, as cidades que se tornavam independentes da influência
senhorial buscavam legitimar suas conquistas pelas cartas de franquia,
documentos pelos quais se formalizam as conquistas da burguesia, tais como:
•
direito à arrecadação de tributos para a cidade;
•
organização da própria milícia;
• fim
dos tributos feudais;
•
autonomia jurídico-administrativa.
As
corporações de ofício eram associações de artesãos e mercadores, que tinham o
objetivo de manter o monopólio da produção ou comercialização de determinado
produto, numa região, para seus membros. Buscavam manter a uniformidade de
preços e qualidade dos produtos e agrupavam todos os trabalhadores de um mesmo
ramo de uma localidade.
As
corporações eram formadas por mestres, oficiais ou companheiros e aprendizes. O
mestre-artesão era o proprietário da oficina e dono também da matéria-prima e
das ferramentas. Ele ficava com todos os produtos fabricados e, portanto, com
todos os lucros da venda.
Para
auxiliar o mestre, havia os oficiais, geralmente filhos ou parentes próximos
que recebiam um salário pelo seu trabalho. A situação dos oficiais não era
muito inferior à do mestre. Eles mesmos podiam tornar-se mestres, desde que
houvesse uma expansão do mercado e que a corporação permitisse a instalação de
uma nova oficina.
Os
aprendizes geralmente eram parentes menores. Ficavam subordinados diretamente
ao mestre, com o qual aprendiam a profissão e noções gerais de educação. A
etapa da aprendizagem durava em geral sete anos, podendo variar de três a doze,
após a qual o aprendiz se tornava oficial.
A
ascensão dentro dessa hierarquia era muito lenta. Dependia de uma série de
condições. Uma era a expansão do mercado local, que exigia mais produção e,
portanto, mais oficiais, mestres e aprendizes. Além disso, a conquista do grau
de mestre, com o passar dos tempos, ficou sujeita a certas condições, como
pagamento de direitos, nascimento legítimo, filiação burguesa e realização de
uma obra de arte dentro da especialidade, que era julgada pelo corpo de mestres
já existente.
Esse
modo de produção artesanal era válido somente para o mercado local. Com o
desenvolvimento do comércio internacional, apareceram novas relações de
trabalho. Primeiramente, os artesãos começaram a depender de um comerciante que
lhes fornecia a matéria-prima e os instrumentos de trabalho e lhes pagava um
salário. Esses trabalhadores podiam ser contratados por uma jornada de
trabalho: eram os jornaleiros. Sua situação era muito difícil, pois ficavam
sujeitos aos azares do mercado, ao desemprego, enfim, a condições de vida
miseráveis. O comerciante intervinha na produção para conseguir melhores ganhos
na venda do produto. Conseguia isso baixando o custo da produção (comprando matéria-prima
barata e contratando mão-de-obra também barata). Esse novo personagem era o
comerciante manufatureiro, que preparava o aparecimento das manufaturas da
época moderna.
Resumo
Renascimento
do Comércio
Principais
rotas:
–Mediterrâneo;
–Champagne;
–mar do Norte;
–Champagne;
–mar do Norte;
– cidades italianas
(comércio Ocidente/Oriente – especiarias)
Processo:
– nós de trânsito (cruzamento de rotas);
– nós de trânsito (cruzamento de rotas);
– feiras (temporárias);
– mercados (cidades).
Renascimento Urbano
– As cidades surgiram com o crescimento do comércio/burguesia.
– A produção urbana era controlada pela corporação
(preços, quantidade e qualidade dos produtos).
– Desenvolvimento econômico levou a: produção
artesanal/indústria doméstica/produção manufatureira.
– Cidades:
• comuna (pela força/luta armada);
• franca (pelo dinheiro/liberdade comprada);
• reais (apoio real).
– Carta de Franquia (liberdade das cidades).
Exercícios Resolvidos
01. Sobre o renascimento do comércio, ao longo da
Baixa Idade Média (séculos XI/XII – XV), na Europa ocidental, responda às
questões abaixo.
a) Quais foram as principais rotas comerciais
marítimas a partir do século XI? E quem as controlava?
b) Qual era a principal diferença entre as feiras europeias na Alta e na Baixa Idade Média?
c) Onde se realizavam as feiras mais importantes?
02. Como as corporações exerciam o controle sobre
produtores e consumidores?
Acerca do processo de renascimento
urbano na Baixa Idade Média, responda às questões abaixo.
03. O que motivou o renascimento urbano
na Baixa Idade Média?
04. Como o processo de marginalização
social contribuiu para o crescimento das cidades?
05. Qual era a camada social marcante da cidade medieval?
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