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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Fundamentos do Mundo Moderno

Idade Moderna– Introdução - 1001

Fundamentos do Mundo Moderno

O século XV foi o marco inicial de um novo estágio de desenvolvimento histórico da humanidade, quando se acentuou a crise do feudalismo que marcou a Baixa Idade Média e, ao mesmo tempo, fortaleceu-se o sistema global que caracterizaria a Idade Moderna: o capitalismo.

Apenas por questão de ordem didático-cronológica, coloca-se o ano de 1453 como marco do processo de transição da Idade Média para a Moderna. Neste ano verificou-se a queda de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente (bizantino), em poder dos turcos.

A superação dos conceitos medievais pela nova mentalidade que se afirmava, manifestou-se em todos os aspectos da vida na época: no econômico, no sociopolítico e no cultural-religioso. Vejamos cada um desses aspectos que contribuíram para essa fase conhecida como transição feudo-capitalista:

I) Aspecto Econômico: a reabertura do mar Mediterrâneo, que favoreceu o desenvolvimento do comércio, foi quase inexistente na Europa ocidental medieval. A retomada da produção para o mercado interno/externo, enquanto no período anterior produzia-se para a subsistência. O estímulo aos lucros e aos empréstimos, apesar das proibições impostas pela Igreja Católica ao comércio e à usura, e o aumento da circulação monetária alavancaram os primórdios do capitalismo (Revolução Comercial).

II) Aspecto Sociopolítico: surgiu e desenvolveu-se nessa conjuntura de transição, uma nova classe social em função do desenvolvimento econômico-comercial: a burguesia. Os comerciantes e artesãos (burguesia), encontraram na nobreza feudal um obstáculo que barrava sua ascensão e interesses. O poder real apoiou essa nova classe por meio de concessões comerciais e em troca recebeu o apoio político que lhe permitiu fazer frente à nobreza e restabelecer sua autoridade plena.

O Estado na Idade Moderna assumiu novas características, como por exemplo: a centralização político-administrativa nas mãos do rei (absolutismo); a formação de exércitos nacionais e também o estabelecimento de fronteiras nacionais da Europa.

III) Aspecto Cultural-religioso
Em oposição à visão de mundo medieval, profundamente voltada aos problemas da vida após a morte (salvação), Deus, ou seja, problemas que giravam em torno da religião (teocentrismo); o homem moderno passou a preocupar-se mais com seus problemas concretos, numa visão a qual chamamos de humanismo (antropocentrismo).

Em torno de tudo isso, deu-se uma abertura artística e científica, que permitiu o renascimento cultural.

Por outro lado, o cristianismo místico do mundo medieval sofreu contestações, foi submetido a análises mais racionais, o que resultou no rompimento do pensamento cristão com o surgimento do protestantismo, fato conhecido como Reforma religiosa.
                                              
               
Origem do Capitalismo
               

O sistema capitalista começa a surgir ao longo da Baixa Idade Média (século XI ... ), sendo essa primeira etapa chamada de pré-capitalismo. As etapas seguintes são caracterizadas pela predominância do comércio, em seguida da indústria e, por fim, da atividade financeira.

O renascimento comercial foi fator primordial na gênese do capitalismo, caracterizando-se, nesse primeiro momento, pelo trabalho artesanal organizado pelas corporações de ofício.

Podemos concluir que o renascimento comercial, as feiras e as cidades geram o pré-capitalismo, como também nos permitem denotar algumas características básicas do capitalismo, tais como: a produção para o mercado, as trocas monetárias, o racionalismo burguês-empresarial e a busca constante do lucro e da acumulação de capital (riqueza).

               
O Capitalismo Comercial
               

Em primeiro lugar, podemos considerar o capitalismo comercial como a primeira etapa do capitalismo, porque a etapa pré-capitalista não havia ainda definido e consolidado a essência do novo sistema: o trabalho assalariado. Porém, por um aspecto de seqüência didática, vamos considerar o capitalismo comercial como um segundo momento da evolução histórica capitalista. Por volta dos séculos XV/XVI, em especial na Europa ocidental, o trabalho assalariado se intensificou e evoluiu a largos passos até o século XVIII, quando se estruturou o capitalismo industrial, fruto da Revolução Industrial (Inglaterra). Nesse contexto, o comércio deixou de ser a principal atividade econômica, passando da circulação para a produção e acumulação de capital.

É importante salientar que o capitalismo comercial existiu em alguns países economicamente mais avançados da Europa ocidental, por volta do século XVI. Enquanto isso, na Europa oriental, na África, na Ásia, só muito mais tarde é que o capitalismo surgiria.

               
O Capitalismo Comercial – Economia
               

A forma pela qual estava organizada a economia do capitalismo comercial é denominada de política, econômica e mercantilista. Ao longo da Idade Moderna, o mercantilismo sustentou a tese de que a riqueza de uma nação dependia da manutenção de uma balança comercial favorável, isto é, conseguir que as exportações fossem sempre superiores às importações. O superávit da balança comercial dependia essencialmente do desenvolvimento do comércio da nação. Nessa medida, a atividade comercial era considerada a base da geração e acumulação de capital (riqueza). É compreensível, portanto, a atenção que os governos das nações européias ocidentais dispensaram ao desenvolvimento e expansão do comércio. Dessa maneira, a prática econômica mercantil estava voltada ao crescimento do comércio.
Como já pudemos considerar anteriormente, as práticas mercantilistas que promoveram o avanço do capitalismo comercial tinham na balança comercial favorável seu princípio básico. Exportar mais e importar menos, buscando um saldo positivo em forma de moedas de ouro ou prata (metalismo), era o objetivo maior do período moderno (séculos XVI-XVIII).

Para alcançar a balança comercial favorável, era preciso haver o intervencionismo estatal na economia: limitar ou até proibir as importações de produtos que concorressem com a produção nacional. Permitia-se a importação de produtos indispensáveis ao país, tais como matérias-primas básicas e alimentos. Estimulava-se a produção agrícola e manufatureira interna para que fosse alcançada a auto-suficiência, dispensando assim a importação e mantendo a política de excedentes para a exportação.

Para aumentar as exportações, os países da Europa ocidental buscavam, através da expansão marítima e comercial, e com a fundação de colônias de povoamento e exploração, ampliar suas áreas de atuação mercantil-comercial. Assim fizeram Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda. Cada qual buscou, através da implantação do sistema colonial tradicional, criar centros consumidores dos produtos temperados europeus e fornecedores de produtos tropicais para o mercado das metrópoles européias. Em relação às colônias, estes países europeus eram chamados de metrópoles e adotavam a mesma política mercantil intervencionista, impedindo a concorrência de outros países e monopolizando o comércio de suas colônias.

O monopólio era o direito exclusivo da metrópole no comércio com as colônias, sendo um dos traços marcantes da política econômica e mercantilista. É notório, contudo, que o simples fato de uma metrópole declarar o monopólio sobre uma colônia não era o bastante para impedir a tentativa de outras metrópoles, no sentido de interferirem comercialmente nas suas colônias. Para tal, ao longo da Idade Moderna, com o objetivo de reduzir os atritos e conflitos de interesses entre as metrópoles européias, foi estabelecido um acordo conhecido como "Pacto Colonial", que foi mantido até o século XVIII, quando as mudanças na essência do capitalismo comercial pós-Revolução Industrial colocaria em questão o monopólio.

               
O Capitalismo Comercial – Sociedade e Política
               
No período que vai do século XVI ao século XVIII, a sociedade européia foi marcada pela transição e estruturação do modelo social burguês, definido pela riqueza acumulada e não mais pela origem ou tradição. A nobreza de origem medieval mantém poder e prestígio sociopolítico, vivendo, nesse novo contexto, à sombra do poder real cada vez mais centralizado e absoluto. Exercendo cargos de importância na administração do Estado moderno, são parasitas que vivem das pensões reais. O enfraquecimento da nobreza feudal foi um dos resultados mais significativos da crise do feudalismo e da fase de transição feudo-capitalista.
                                              
Enquanto a nobreza permanecia ligada aos latifúndios (terra), surge cada vez com mais força a burguesia, ligada ao comércio e à manufatura. Nesse período, eles faziam parte do terceiro estado, ou seja, a terceira posição social do reino, considerando-se que as duas primeiras eram formadas pelo alto clero (Igreja) e nobreza. Essa sociedade, conhecida como de "ordens" ou estamental, era resultado de uma série de privilégios, apoiados pelo sistema jurídico, ligados à origem e à tradição e não vinculados à situação econômica das pessoas. Assim, um nobre podia empobrecer sem deixar de ser nobre, enquanto um membro do terceiro estado poderia enriquecer sem passar para os primeiros estados.

No plano político, o poder está centralizado nas mãos do rei, que é absoluto. Seu poder quase ilimitado está ao sabor da sua vontade e das leis de Deus, sendo fruto da vontade divina este poder.

Essa forma de governo ficou conhecida como Monarquia absoluta de direito divino, porque se considera que o poder real emana de Deus, sendo o rei seu representante político, e o papa seu representante espiritual.

O Absolutismo real apoia-se sobre o capitalismo comercial e na prática mercantilista.
Por fim, podemos concluir que a sociedade de ordens ou estamentos e o poder absoluto do rei marcaram a evolução do capitalismo comercial ao longo da Idade Moderna.

A Expansão Marítima e Comercial Europeia


Desde os primórdios da Baixa Idade Média, as cidades italianas exerciam importante influência no comércio do Mediterrâneo, à medida que monopolizavam a distribuição de especiarias (produtos orientais) na Europa. Fazendo fortuna ao longo das rotas comerciais europeias, os comerciantes da península Itálica participavam das feiras de Champagne e Flandres, onde realizavam suas transações comerciais com os mercadores da Europa setentrional.

Porém, a retração iniciada no século XIV, como resultado mais geral da Guerra dos Cem Anos, da difusão da Peste Negra e das próprias contradições estruturais do feudalismo, contribuiu para a crise do comércio europeu. As rotas de comércio mais tradicionais começaram a sofrer com os saques e assaltos, resultantes do agravamento da crise social. Por outro lado, os comerciantes ainda eram sujeitados a pagar altas taxas de pedágio pela travessia dos feudos à nobreza feudal, o que ocasionava a elevação do preço final dos produtos. Dessa maneira, as rotas terrestres e fluviais mais tradicionais acabaram sendo substituídas, de forma gradual, por rotas marítimas, que possibilitavam a ligação da península Itálica ao oceano Atlântico e mar do Norte.

Nesse contexto é que o litoral da península Ibérica passou a ter importância. Localizado na metade do caminho entre a península Itálica e o mar do Norte, Portugal passou a representar um excelente ponto de escala e de reabastecimento para os comerciantes de origem flamenga e italiana. Dessa maneira, as atividades econômicas lusas tomaram o rumo do desenvolvimento comercial marítimo, propiciando a ascensão da burguesia mercantil portuguesa, que, em um segundo momento, seria promotora da expansão marítima.

A conjuntura europeia , nessa época, afetada pelos resultados mais gerais da crise do feudalismo, buscava sua reestruturação econômica. Concomitantemente, as reservas de metais preciosos, tão importantes para o desenvolvimento da atividade comercial, estavam quase todas esgotadas na Europa. O mercado consumidor das especiarias (produtos orientais) era cada vez mais restrito, pois os preços dessas mercadorias estavam cada vez mais altos. O motivo desses altos preços residia no grande número de intermediários e no monopólio italiano sobre a rota do Mediterrâneo (Constantinopla e Alexandria).

A revitalização da economia europeia dependia, essencialmente, da busca de metais preciosos e ampliação do comércio, promovendo maior oferta de produtos, o que levaria a uma queda dos preços. Para tal, seriam necessários o estabelecimento de uma nova rota para o Oriente  e a formação de novos mercados. Portanto, era irreversível e necessária a expansão marítima, rumo ao desconhecido Atlântico e contornando a África em busca do novo caminho para o Oriente.

Contudo, a maior parte das monarquias europeias não conseguia reunir condições conjunturais e estruturais favoráveis para a realização do projeto expansionista.

A Espanha enfrentava problemas internos e externos, motivados pela falta de unidade política e pela histórica presença dos árabes muçulmanos no sul da península, situação essa resolvida na segunda metade do século XV, com o casamento dos reis de Aragão e Castela e com a vitória final da Reconquista em Granada. A França e a Inglaterra estavam envolvidas na Guerra dos Cem Anos, cujas conseqüências foram reciprocamente nefastas, e aos ingleses ainda restaria a Guerra das Duas Rosas. O Sacro Império Romano-Germânico mantinha-se fragmentado em repúblicas como as italianas, cujo interesse maior era a manutenção do monopólio comercial no Mediterrâneo, e um conjunto de reinos e principados alemães autônomos. Na mesma situação de fragmentação, estavam as regiões da Holanda e Bélgica, as chamadas províncias dos Países Baixos.

Nessa conjuntura de instabilidade, apenas Portugal conseguiu reunir condições favoráveis para iniciar a expansão ultramarina: uma burguesia próspera e dinâmica, um Estado precocemente centralizado e forte (Revolução de Avis), uma posição geográfica favorável e conhecimentos técnicos de navegação (Escola de Sagres).

Do ponto de vista cultural, as novas concepções (Renascimento Cultural) sobre a forma da Terra, por oposição às teses dominantes na Idade Média, levaram à conclusão de que seria possível atingir qualquer continente pela navegação marítima em linha reta (circunavegação). Além das novas concepções, foram criadas novas condições técnicas: o desenvolvimento da arte da construção naval e da própria navegação.

Os progressos da cartografia, o uso da bússola e do astrolábio e, sobretudo, a invenção da caravela deram a segurança necessária para enfrentar os obstáculos representados pelos mares e oceanos (ex. Atlântico).

A Expansão Marítima Portuguesa
Tendo seu início marcado pela conquista do entreposto comercial de origem árabe no norte da África em 1415, conhecido por Ceuta, a expansão ultramarina portuguesa começou com a conquista das ilhas do Atlântico e do litoral africano. A partir da segunda parte do século XV, os navegantes a serviço do reino de Portugal passaram, apoiados na experiência náutica adquirida, à realização de viagens mais distantes e de caráter oceânico. Dessa maneira, foram possíveis a descoberta de uma nova rota para as Índias e a obtenção dos produtos orientais tão almejados pelo Estado luso.

Nesse processo de expansão, Lisboa passou a ser vista como um centro comercial relevante, tornando-se importante elo do comércio europeu. Contudo, por não organizar uma estrutura financeira compatível, capaz de promover a manutenção de sua supremacia comercial, o comércio luso vinculou-se em demasia às companhias comerciais flamengas e italianas. Com isso, as grandes riquezas conquistadas pelos portugueses foram diluídas pelo resto das nações européias, enriquecendo outras burguesia e limitando a capitalização interna e o desenvolvimento de outras atividades, como a produção manufatureira lusa.

A Expansão Marítima Espanhola
Ao conseguir superar, em 1492, dois dos seus maiores problemas – a falta de unidade política e a presença árabe –, a Espanha conseguiu reunir forças para a realização de seu processo de expansão marítimo-comercial. No mesmo ano em que se concretizou seu processo de reconquista e unificação, o novo reino europeu patrocinava a expedição do controvertido navegador genovês Cristóvão Colombo.

Defensor da tese da esfericidade da Terra, Colombo apoiou seu projeto expansionista em uma viagem em direção ao Ocidente para alcançar o Oriente (Índias). Partindo em agosto de 1492, o navegador genovês navegou para o Ocidente ao longo de dois meses, chegando às atuais Bahamas (ilha de Guanaani-San Salvador). Tinha assim início o ciclo ocidental ou espanhol das grandes navegações. Porém, foi o navegador florentino Américo Vespúcio, companheiro de Colombo em diversas expedições, que começou a suspeitar do equívoco do descobrimento feito por Colombo. Américo Vespúcio provou que a terra chamada de "Índias" era, na verdade, um novo continente localizado entre a Europa e Ásia, recebendo, em sua homenagem, o nome de América. Colombo, no entanto, morreu em 1504, jamais tendo suspeitado haver descoberto um novo continente.

Outras descobertas continuaram a ser feitas pelos espanhóis. Em 1513, um navegador de nome Balboa cruzou a América Central, atingindo pela primeira vez o oceano Pacífico. Fernão de Magalhães deu início, em 1519, à primeira viagem de circunavegação. Após várias peripécias, morreu nas Filipinas em 1521. Sua viagem teve continuidade sob o comando de Sebastião Elcano, que completou o trajeto de volta ao mundo em 1522.
               
A Rivalidade Luso-Espanhola (Os Tratados Ultramarinos)
A corrida expansionista luso-espanhola gerou, por volta da segunda metade do século XV, conflitos e controvérsias a respeito do direito de posse e ocupação das terras descobertas ou a descobrir. Com o objetivo de definir os direitos de cada Estado, formularam-se vários tratados, sendo os mais importantes a bula Intercoetera e o tratado de Tordesilhas.

Em 1493, o papa Alexandre VI editava a bula Intercoetera, que estabeleceria a divisão do mundo ultramarino entre portugueses e espanhóis. Um meridiano, localizado a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, destinava a Portugal todos os territórios ultramarinos a oriente e, à Espanha, as terras localizadas a ocidente do meridiano.
Os portugueses, sentindo-se prejudicados, contestaram esse tratado, reivindicando uma nova negociação. Após um período tenso de discussões, um novo acordo foi celebrado em 1494, na cidade de Tordesilhas, na Espanha. O tratado de Tordesilhas mudava a linha demarcatória anterior para a posição de 370 léguas a oeste de Cabo Verde. Com esse tratado, ampliaram-se substancialmente as possibilidades portuguesas de conquistar terras no Atlântico ocidental, cuja existência já era de ciência dos portugueses.
               
Retardamento Europeu
               

Em função das dificuldades já analisadas anteriormente, somente na segunda metade do século XVI as outras nações européias conseguiram reunir condições para participação na expansão marítima e comercial  do início dos tempos modernos.

Por volta da primeira metade do século XVI, a França passou a contestar veementemente as decisões luso-espanholas contidas no tratado de Tordesilhas, promovendo vários ataques piratas e de corsários, em especial contra a América lusitana. São desse período as invasões francesas ao Brasil, que tentaram estabelecer pontos de fixação no Rio de Janeiro e Maranhão. As expedições à América do Norte permitiram a ocupação de territórios no Canadá e na Louisiana.

Na Inglaterra, durante o século XVI, organizaram-se diversas viagens de reconhecimento ao litoral da América setentrional, bem como expedições piratas e ataques corsários contra embarcações estrangeiras, em especial contra os galeões espanhóis. Como proporcionava ao Estado altos lucros, a pirataria foi estimulada e protegida pela Monarquia inglesa, passando a constituir a principal atividade dos marinheiros ingleses na segunda metade do século XVI. Nessa mesma época, a Inglaterra passa a praticar o lucrativo tráfico negreiro para as Américas.

Também os Países Baixos, em especial a Holanda, participaram do processo expansionista. Ocuparam as Antilhas e a Guiana e promoveram a fundação, na América do Norte, da cidade de Nova Amsterdã, atualmente Nova Iorque, nos EUA. Foram ainda os financiadores de Portugal na implantação da agroindústria açucareira no Nordeste brasileiro.
               
A Revolução Comercial e suas Consequências
Entendemos a Revolução Comercial como o conjunto de transformações ocorridas na economia europeia e, por consequência, mundial, entre os séculos XV e XVII, consolidando em definitivo o capitalismo. O principal eixo econômico da Europa (Mediterrâneo) foi transferido para o Atlântico-Índico. O desenvolvimento da navegação oceânica propiciou o contato com as mais distantes e desconhecidas regiões do planeta, tornando a expansão marítimo-comercial europeia do início dos tempos modernos a página mais importante da internacionalização do comércio mundial.
A exploração e a colonização das terras americanas, africanas e asiáticas representaram a ampliação do comércio, como também a diversificação dos produtos a serem comercializados e a expansão dos mercados fornecedores e consumidores das manufaturas européias. Podemos ainda destacar a descoberta de jazidas de metais preciosos na América, o que assegurou um grande afluxo de riquezas que, transformadas em meio circulante (moedas), deram solução ao problema de escassez monetária reinante na Europa pré-expansionista.

Com isso, podemos concluir que o comércio europeu passou a viver um período de grande prosperidade e dinamismo. A intensificação das relações comerciais promoveu um grande acúmulo de capitais e lucros nas mãos da burguesia mercantil, preparando-a para novos empreendimentos que culminariam, ao final da Idade Moderna, com a Revolução Industrial.

Renascimento Comercial-Urbano



1. O Renascimento do Comércio
Com a reabertura do mar Mediterrâneo, ocorreu a rearticulação do comércio europeu, e as cidades italianas foram as mais favorecidas. Apoiadas na posição geográfica favorável e no fortalecimento de suas ligações comerciais com o Oriente, as cidades italianas conseguiram a prioridade na distribuição dos produtos orientais (especiarias) por toda a Europa (rota do Mediterrâneo). Na Europa nórdica, o comércio teve seu maior desenvolvimento na região dos mares do Norte e Báltico e, sobremaneira, em Flandres (tecidos/lã).
O crescimento do comércio na parte meridional e setentrional do continente europeu possibilitou a interação entre essas regiões, por meio de rotas comerciais  (terrestres/fluviais). Dessa maneira, promovendo a navegação por rios, como o Reno, o Danúbio e o Ródano, os comerciantes organizavam as feiras, que se tornaram os primeiros locais de comércio (temporário).
Por volta do século XIV, as mais expressivas feiras foram realizadas em Champagne (França), região situada no coração da Europa ocidental. Nesses pontos de comércio temporário, os mercadores nórdicos podiam comercializar tecidos, peles, madeira, mel e peixes com os mercadores italianos, detentores do monopólio oriental (especiarias).
Esse desenvolvimento da atividade comercial propiciou o ressurgimento das finanças, com a volta da circulação monetária, do crédito, das letras de câmbio, enfim, estimulando as atividades bancárias. Nesse processo, a riqueza latifundiária (terra) perdia a supremacia e surgia um novo segmento social, os comerciantes.
Durante o século XIV (peste, fome e guerra), o comércio das feiras de Champagne passou por um período de profunda crise, em conseqüência da conjuntura criada pela Guerra dos 100 Anos (1337-1453), entre França e Inglaterra, e da difusão da peste negra.
Em função dos problemas que afetaram a região de Champagne, Flandres conseguiu um grande desenvolvimento comercial. Saindo pelo interior na rota fluvial do rio Reno, ou pelo Mediterrâneo, passando por Gibraltar e depois rumo ao Atlântico – mar do Norte – os comerciantes, principalmente os italianos, contribuíram para desenvolver os portos de toda a Europa.
Por volta do século XII, surgem as ligas, também chamadas de hansas, que se tornaram importantes coligações de cidades medievais. Reunindo uma grande diversidade de atividades e produtos, conseguiram realizar o comércio em alta escala.
As mais importantes rotas foram as inglesas, flamengas e a teutônica (Liga Hanseática).
As hansas tiveram fundamental importância na dinamização dos mercados e das cidades medievais. Sua atuação, baseada no lucro e acúmulo de capitais, denotava o pré-capitalismo que levaria à grande Revolução Comercial (séculos XV e XVI).
                                            2. O Renascimento Urbano
Na Baixa Idade Média, com o surgimento e crescimento da classe mercantil, foi sendo estabelecido gradualmente um estilo de vida urbana baseado não mais nos estamentos sociais feudais, mas sim na sociedade de classes.
Por volta do século XIV, as vilas e cidades eram compostas por uma população cada vez mais dedicada ao comércio e artesanato. Grande parte dos centros urbanos florescia a partir das antigas vilas e cidades, contudo, em regiões estratégicas (castelos, abadias, rios, estradas, etc.), a partir das rotas e feiras, multiplicando-se novos centros urbanos.
Os chamados burgos, nome dado a essas cidades medievais, resultaram do fato de muitas delas serem fortificadas (amuralhadas). As muralhas que as rodeavam tinham por objetivo maior resguardar e proteger seus habitantes, os burgueses.
Embora tivessem uma relativa liberdade de atividades mercantis e artesanais, as cidades medievais estavam localizadas em territórios feudais, portanto, viam-se sujeitas à autoridade dos nobres ou senhores feudais; os burgueses eram obrigados a respeitar as leis locais e a pesada tributação.
Com o desenvolvimento comercial e o crescimento econômico-social da burguesia, essas cidades passaram a buscar maior autonomia e independência.
Essa luta pela emancipação das cidades medievais estendeu-se do século XI ao século XIII e passou para a história com o nome de movimento comunal.
A independência dos centros urbanos, quando conquistada por caminhos pacíficos, dependia, na maioria das vezes, do pagamento de indenizações aos senhores feudais.
Em outras situações, quando os senhores feudais resistiam às mudanças, as cidades buscavam no rei, em processo de fortalecimento, o apoio político-militar (luta armada).
De qualquer maneira, as cidades que se tornavam independentes da influência senhorial buscavam legitimar suas conquistas pelas cartas de franquia, documentos pelos quais se formalizam as conquistas da burguesia, tais como:
• direito à arrecadação de tributos para a cidade;
• organização da própria milícia;
• fim dos tributos feudais;
• autonomia jurídico-administrativa.
As corporações de ofício eram associações de artesãos e mercadores, que tinham o objetivo de manter o monopólio da produção ou comercialização de determinado produto, numa região, para seus membros. Buscavam manter a uniformidade de preços e qualidade dos produtos e agrupavam todos os trabalhadores de um mesmo ramo de uma localidade.
As corporações eram formadas por mestres, oficiais ou companheiros e aprendizes. O mestre-artesão era o proprietário da oficina e dono também da matéria-prima e das ferramentas. Ele ficava com todos os produtos fabricados e, portanto, com todos os lucros da venda.
Para auxiliar o mestre, havia os oficiais, geralmente filhos ou parentes próximos que recebiam um salário pelo seu trabalho. A situação dos oficiais não era muito inferior à do mestre. Eles mesmos podiam tornar-se mestres, desde que houvesse uma expansão do mercado e que a corporação permitisse a instalação de uma nova oficina.
Os aprendizes geralmente eram parentes menores. Ficavam subordinados diretamente ao mestre, com o qual aprendiam a profissão e noções gerais de educação. A etapa da aprendizagem durava em geral sete anos, podendo variar de três a doze, após a qual o aprendiz se tornava oficial.
A ascensão dentro dessa hierarquia era muito lenta. Dependia de uma série de condições. Uma era a expansão do mercado local, que exigia mais produção e, portanto, mais oficiais, mestres e aprendizes. Além disso, a conquista do grau de mestre, com o passar dos tempos, ficou sujeita a certas condições, como pagamento de direitos, nascimento legítimo, filiação burguesa e realização de uma obra de arte dentro da especialidade, que era julgada pelo corpo de mestres já existente.
Esse modo de produção artesanal era válido somente para o mercado local. Com o desenvolvimento do comércio internacional, apareceram novas relações de trabalho. Primeiramente, os artesãos começaram a depender de um comerciante que lhes fornecia a matéria-prima e os instrumentos de trabalho e lhes pagava um salário. Esses trabalhadores podiam ser contratados por uma jornada de trabalho: eram os jornaleiros. Sua situação era muito difícil, pois ficavam sujeitos aos azares do mercado, ao desemprego, enfim, a condições de vida miseráveis. O comerciante intervinha na produção para conseguir melhores ganhos na venda do produto. Conseguia isso baixando o custo da produção (comprando matéria-prima barata e contratando mão-de-obra também barata). Esse novo personagem era o comerciante manufatureiro, que preparava o aparecimento das manufaturas da época moderna.

Resumo
Renascimento do Comércio
Principais rotas:
–Mediterrâneo;
–Champagne;
–mar do Norte;
– cidades italianas (comércio Ocidente/Oriente – especiarias)
Processo:
– nós de trânsito (cruzamento de rotas);
– feiras (temporárias);
– mercados (cidades).
Renascimento Urbano
– As cidades surgiram com o crescimento do comércio/burguesia.
– A produção urbana era controlada pela corporação (preços, quantidade e qualidade dos produtos).
– Desenvolvimento econômico levou a: produção artesanal/indústria doméstica/produção manufatureira.
– Cidades:
• comuna (pela força/luta armada);
• franca (pelo dinheiro/liberdade comprada);
• reais (apoio real).
– Carta de Franquia (liberdade das cidades).



Exercícios Resolvidos
01. Sobre o renascimento do comércio, ao longo da Baixa Idade Média (séculos XI/XII – XV), na Europa ocidental, responda às questões abaixo.
a) Quais foram as principais rotas comerciais marítimas a partir do século XI? E quem as controlava?

b) Qual era a principal diferença entre as feiras europeias na Alta e na Baixa Idade Média?

c) Onde se realizavam as feiras mais importantes?


02. Como as corporações exerciam o controle sobre produtores e consumidores?
Acerca do processo de renascimento urbano na Baixa Idade Média, responda às questões abaixo.
03. O que motivou o renascimento urbano na Baixa Idade Média?

04. Como o processo de marginalização social contribuiu para o crescimento das cidades?


05. Qual era a camada social marcante da cidade medieval?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Manifestação Iguaçuana

Para que acessar meu blog a procura de noticias de Nova Iguaçu coloco aqui um pequeno vídeo. Aviso também que há muitos boatos de quebra-quebra e vandalismo em NI mas são na maioria apenas boatos. A poucos instantes me ligaram dizem que os manifestantes passaram pelo polo automotivo, a Nilo Peçanha, e quebraram tudo, como moro perto fui constatar tudo normal, sem nenhuma loja quebrada. De bagunça mesmo era o lixo espalhado pela rua, pois a prefeitura não mandou a limpeza urbana para a rua. Mas vejam o vídeo.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Textos e Exercícios Resolvidos - 1001

I. Idade Média – Feudalismo
1.      Origens do Feudalismo.
O feudalismo teve seu processo de formação iniciado a partir das transformações ocorridas no final da Antiguidade, com a crise do Império Romano do Ocidente e das invasões bárbaro-germânicas, atingindo sua cristalização na Alta Idade Média (séculos V – X). O processo de decadência desse modo de produção já se fazia sentir no início do século XI, mas prosseguiria até o século XV, culminando na transição feudo-capitalista no final da Baixa Idade Média (séculos X – XV).
Por volta do século V, com o declínio romano e a desestruturação do modo de produção escravista, ocorreu um grande êxodo urbano, levando a população a buscar sua sobrevivência no campo. A atividade agrícola, desenvolvida nas grandes propriedades ou latifúndios (vilas), constituiu a base de uma economia de subsistência (auto-suficiência/colonato) tendo como consequência maior a estruturação do modelo feudal de produção.
Nesse contexto, os bárbaros germânicos, que passaram a ocupar a porção ocidental do Império Romano em decomposição, foram significativos elementos do processo de estruturação do modo de produção feudal, embora outros povos invasores tenham contribuído para promover a aceleração da ruralização e feudalização europeia.
Entre eles, estão os árabes que, por volta do século VIII, ocuparam a bacia do Mediterrâneo bloqueando as relações entre o Ocidente e o Oriente. Posteriormente, no século IX, as invasões normandas e magiares fechariam essas ondas de instabilidade militar provocadas pelas invasões no continente europeu.
Podemos, com isso, concluir que o modo de produção feudal foi resultado da conjugação de fatores estruturais (fusão do modo de vida romano e bárbaro) e conjunturais (invasões bárbaras, árabes, normandas, etc).

2.      Economia Feudal
O sistema feudal, característico do Ocidente europeu, tinha por fundamento a economia agrária, natural (amonetária), auto-suficiente e rural. O modelo de propriedade feudal era o latifúndio senhorial, pertencente à camada privilegiada (elite/origem), formada pela nobreza feudal (senhores e alto clero).
A principal unidade de produção era "o feudo" que se dividia da seguinte maneira:
I. Manso senhorial: terras de propriedade e posse do senhor feudal.
II.Manso servil: terras de propriedade do senhor feudal, mas trabalhadas pelos servos e família.
III.Manso de reserva: bosques, pastagens e pradarias que eram utilizados pelo senhor feudal e seus servos

3. Sociedade Feudal
A sociedade feudal era formada por duas camadas (estamentos), ou melhor, dois grupos sociais rigidamente hierarquizados (status quo = origem): os senhores feudais e os servos.
Os servos constituíam a maior parte da população camponesa submetida, como no colonato romano, às pressões e à exploração senhorial. Eram forçados a realizar serviços e a pagar diversos impostos ou obrigações em troca da permissão de uso ou posse da terra e da tão necessária proteção militar representada pelo castelo feudal.
Principais obrigações servis:
• Corvéia : trabalho gratuito nas terras do senhor (manso senhorial) em alguns dias da semana.
• Talha : porcentagem da produção das tenências.
• Banalidade : tributo cobrado pelo uso de instrumentos ou bens do senhor, como o moinho, o forno, o celeiro, as pontes.
• Capitação : imposto pago por cada membro da família servil (por cabeça).
• Tostão de Pedro : imposto pago à Igreja, utilizado para a manutenção da capela local.
• Mão morta : tributo cobrado na transferência do lote de um servo falecido a seus herdeiros.
Em suma, a sociedade feudal era marcada pela desigualdade. As relações sociais ocorriam entre as camadas (estamentos), assumindo uma função de reciprocidade e complementaridade. A relação senhor–servo era baseada na dominação e subordinação, mantendo-se a hierarquia proprietário–força de trabalho. Contudo, entre os senhores, estabeleciam-se relações de reciprocidades, denominadas vassálicas. O fundamento dessas relações era a prestação do serviço e proteção militar.
De um modo geral, alto clero, nobreza e servos eram os grupos básicos e definidores da sociedade feudal, havendo, porém, alguns "status anormais" ou menores. Dentro desses grupos encontram-se os vilões, antigos proprietários livres, também presos ao feudo e à proteção senhorial. Na verdade, eram servos com maiores direitos e liberdades.
               
4.Política Feudal
No período de plenitude do feudalismo, notavam-se quatro instituições ou elementos básicos: o feudo, o suserano, o vassalo e o contrato feudal.
O feudo era um território que se doava: essa porção de terra era um instrumento rendoso para o doador, pois dele cobraria pedágio, obrigações, etc. O suserano era o nobre feudal que doava o feudo (o rei ou senhor que resolvesse desmembrar seus territórios). O vassalo era o senhor ou nobre feudal que recebia o feudo. O contrato feudal era o documento que regulava a doação do feudo, bem como os direitos e deveres (obrigações) do suserano e do vassalo.
A doação se processava em cerimônia solene, composta pelo ritual da "homenagem" e da "investidura". Na homenagem, o vassalo ajoelhava-se, colocando-se a serviço do suserano e procedia ao "juramento de fidelidade". Na investidura, o suserano entregava um símbolo que representasse o feudo (lança com uma flâmula, espada, ou anel).
Recebido o feudo, o vassalo passava a ter certas obrigações para com o suserano. As mais importantes eram:
•              prestar-lhe auxílio militar;
•              participar de seu tribunal;
•              dar-lhe contribuições financeiras em algumas ocasiões (guerras, epidemias).
O suserano, por seu turno, obrigava-se a oferecer ao vassalo proteção militar e garantir-lhe certos direitos, entre os quais:
•              administrar livremente o feudo;
•              o direito de cobrar tributos (obrigações);
•              cunhar moedas;
•              ministrar a justiça (local).
Em síntese, durante a Idade Média, o poder estava nas mãos do rei e da nobreza feudal (alto clero e senhores), com o rei, o poder era de direito (herança), pois, de fato, o poder político era exercido pela nobreza. Dessa maneira, as instituições políticas se apresentavam descentralizadas, marcadamente localizadas (localismo político/mandonismo)

II. Idade Média – A Crise Feudal e as Cruzadas
Introdução
O período conhecido na História por Baixa Idade Média estendeu-se dos séculos XI ao XV e foi caracterizado por significativas mudanças na sociedade medieval, as quais contribuíram para a crise geral do modo de produção feudal (servidão) e a gradual estruturação do futuro sistema capitalista (Pré-Capitalismo).
Do ponto de vista econômico, a economia de consumo (auto-suficiência), característica do modo de produção feudal, foi lentamente evoluindo para a economia de mercado e comercial. No aspecto social, a rígida estrutura em camadas (estamental) foi-se decompondo, surgindo concomitantemente um novo segmento social ligado à atividade comercial: os mercadores ou comerciantes (burguesia). No cenário político, o poder senhorial foi enfraquecendo ante a crise do feudalismo e a centralização do poder real, o que originou a formação de Estados monárquicos nacionais e centralizados.
Esse conjunto de transformações de ordem estrutural e conjuntural, que marcou os primórdios da Baixa Idade Média, teve suas origens nas próprias contradições do modelo feudal, que se tornava inadequado para satisfazer às aspirações mais gerais da sociedade medieval.

1. A Crise do Feudalismo
Com o final da instabilidade político-militar, provocada pelas constantes invasões na Europa, o homem medieval passou a ter melhores condições de vida e adaptação aos territórios que habitava. As grandes ondas epidêmicas que assolaram a Europa logo após o período das grandes invasões diminuíram, ante o isolamento da população em feudos, impedindo a difusão pelo contágio.
Fruto dessa nova conjuntura, por volta do século X, o índice de natalidade passou a superar o de mortalidade.
O crescimento demográfico evoluía, contudo; a incompatibilidade com os limites das estruturas de produção feudal acentuavam-se.
A produção baseada na servidão era limitada, não alcançando o nível crescente de consumo, em função do baixo nível técnico e da pesada carga tributária (obrigações servis). Com isso, a produção limitada e insuficiente para atender a crescente demanda seria o principal fator de transformações na sociedade feudal.
Como consequência instantânea, tivemos a crescente marginalização social: os senhores feudais, procurando regular o consumo e a produção, aumentavam as obrigações e pressionavam a saída dos excedentes populacionais dos feudos.
Grande parte dessa massa populacional começou a se estabelecer em pequenas vilas ou aldeias e antigos centros urbanos, que, com o passar do tempo, foram se transformando em incipientes pólos comerciais e futuros mercados. Outros, marginalizados pela situação econômica, viviam do saque, formando grupos de ladrões de estrada.
O aumento da população, por exigir maior produtividade, em um primeiro momento estimulou o desenvolvimento de novas técnicas para a agricultura. Dessa maneira, surgiram novos instrumentos, como o arado de ferro; novos objetos para atrelar os animais; aperfeiçoamento dos moinhos hidráulicos.
Porém, o relativo desenvolvimento tecnológico emperrou na própria estrutura estamental: o servo não tinha estímulo para o trabalho ou inovações, à medida que as obrigações e os tributos expropriavam seu ganho de produtividade.
Por sua vez, o aprimoramento técnico foi muito restrito, não conseguindo superar a crescente demanda.
Também foi tentada uma expansão dos limites dos territórios para a agricultura, avançando sobre bosques e florestas que, no entanto, foram pouco eficazes, revelando a necessidade de ampliar os limites geográficos europeus.
Para esse processo de expansão, fez-se uso dos excedentes populacionais, os quais participariam das expedições militares e da conquista e ocupação dos novos territórios.
Foi nessa situação histórica que se enquadrou a expansão germânica para o Leste Europeu, e a participação de um grande número de cavaleiros na Guerra de Reconquista contra os sarracenos (península Ibérica) e no movimento cruzadista.
2. O Movimento Cruzadista
As cruzadas são, normalmente, definidas como um conjunto de expedições militares e religiosas dos cristãos contra os sarracenos (islamitas ou muçulmanos), com o objetivo de derrubar o bloqueio a que vinham submetendo a Europa Medieval (século VIII). Dessa maneira, o ideal cruzadista de libertar os lugares religiosos tradicionais (Santo Sepulcro), na Palestina, tornou-se o estandarte desse movimento. Essas expedições já haviam sido conclamadas pelos imperadores bizantinos, que precisavam do apoio ocidental para barrar o ímpeto conquistador dos turcos seldjúcidas sobre o Oriente Europeu. A Igreja Católica, buscando recuperar a influência no Oriente, impulsionou as cruzadas.
Inquestionavelmente, o espírito religioso medieval foi um fator fundamental para a articulação do movimento cruzadista. Porém, outros fatores, como a marginalização social conseqüente do aumento da população feudal e a permanência do costume de primogenitura, foram desencadeadores das cruzadas. De acordo com o costume de primogenitura, apenas o filho varão mais velho do nobre feudal herdaria as terras e os títulos paternos, restando aos outros a vassalagem, o clero, ou a aventura cavalheiresca das conquistas. Para os segmentos marginalizados, não atrelados ao modo de produção, e para os nobres deserdados, o movimento cruzadista significou a oportunidade da conquista e da satisfação "espiritual" e material (saque).
Outro fator importante foi o interesse comercial, principalmente dos mercadores italianos. Para esses homens de negócio, as cruzadas representavam a oportunidade de retomada e rearticulação comercial com a reabertura do mar Mediterrâneo e a aquisição de portos e vantagens comerciais no Oriente (especiarias).
Dessa forma, utilizando como pretexto a expansão dos turcos seldjúcidas no Oriente, o então papa Urbano II, em manifesto proferido no Concílio de Clermont (1095), convocava a cristandade a ingressar nas cruzadas. Com esse pronunciamento, tinham início as diversas cruzadas realizadas entre 1096 e 1270.
As cruzadas fracassaram em relação aos seus objetivos, mas alcançaram resultados inesperados e importantes, determinando o rumo da Idade Média desde então.
Milhares de nobres desapareceram ou ficaram arruinados e, assim, as cruzadas favoreceram a centralização política por parte dos reis. Desta forma, também a Igreja foi afetada, pois a inter-relação Igreja-feudalismo era muito grande: o declínio deste representou igualmente o declínio daquela.
As cruzadas foram um dos grandes responsáveis pela decadência do Império Bizantino. A Quarta Cruzada, dos italianos, arrasou Constantinopla e separou definitivamente a cristandade ocidental da oriental.
No plano econômico, as cruzadas reabriram o Mediterrâneo; afastando os muçulmanos, possibilitaram assim o renascimento comercial e urbano. Deste modo, involuntariamente, deram novo golpe no feudalismo, acelerando sua decadência.
No plano cultural, as cruzadas ajudaram os ocidentais a tomarem conhecimento das contribuições muçulmanas. No entanto, a maioria das influências culturais árabes que chegaram ao Ocidente, vinham através da Espanha e não dos reinos latinos do Oriente

 3. Lista das CRUZADAS
Tradicionalmente se fala em nove Cruzadas, mas, na realidade, elas constituíram um movimento quase permanente.
Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096)
Primeira Cruzada (1096-1099)
Segunda Cruzada (1147-1149)
Terceira Cruzada (1189-1192)
Quarta Cruzada (1202-1204)
Cruzada Albigense
Cruzada das Crianças (1212)
Quinta Cruzada (1217-1221)
Sexta Cruzada (1228-1229)
Sétima Cruzada (1248-1250)
Oitava Cruzada (1270)
Nona Cruzada (1271-1272)



1.   Origens do Feudalismo

01. Que fatores contribuíram para o surgimento do feudalismo? Qual o fator decisivo para a consolidação desse sistema?

Resposta
De um lado, contribuíram para o surgimento do feudalismo fatores decorrentes dos problemas do mundo romano, como a formação das vilas, de produção auto-suficiente; a decomposição do escravismo, dando origem a colonos, clientes e precários; a crise do poder político, que levou à descentralização administrativa. Por outro, fatores decorrentes da herança dos povos germânicos invasores, como a economia natural, destinada ao consumo imediato; a imobilidade social; o sistema político, no qual o Estado era dispensável; o comitatus, grupo de guerra e sua noção de reciprocidade. O fator decisivo para a consolidação do sistema foi a invasão da Europa pelos árabes e, mais tarde, pelos normandos. A invasão bloqueou o comércio e aumentou o clima de insegurança, fazendo com que as pessoas procurassem viver junto a castelos fortificados.

02. Partindo do princípio de que o cerne do feudalismo é a obrigação servil, que características encontramos nesse sistema?

Resposta
Partindo do princípio de que o cerne do feudalismo é a obrigação servil, podemos encontrar as seguintes características desse sistema: produção auto-suficiente, destinada ao consumo e não à troca; sociedade estamental, isto é, em que a posição do indivíduo se define pelo nascimento e pelo prestígio; e poder político local, monopolizado pelo senhor feudal e descentralizado em relação ao rei.

03. Sobre a sociedade feudal e suas características, responda:

a)      Como estava dividida a sociedade feudal?
Resposta
A sociedade feudal estava dividida em dois grandes grupos, o dos poprietários de terras (livres) e o dos camponeses despossuídos (não livres). Nobres e servos definiam-se desde o nascimento e não havia mobilidade social.
b)      Qual era o papel da Igreja nessa sociedade?
Resposta
A Igreja tinha um papel central na organização da sociedade. Além disso, era a maior dona de terras e, portanto, dava e recebia feudos. Controlava também a vida das pessoas: a consciência, o tempo, as artes, o conhecimento, a vida sexual, a vida e a morte. Quase tudo estava nas mãos da Igreja. O clero estava acima da lei humana.

04. Qual a importância do regime da propriedade de terra no sistema feudal?

Resposta
O regime de propriedade de terra era fundamental no sistema feudal. O senhor feudal exercia o poder absoluto em sua propriedade, também chamada de domínio ou senhorio. Era ele quem aplicava as leis, concedia privilégios, declarava a guerra, fazia a paz.

 A Crise Feudal e as Cruzadas

5) Sobre o período conhecido como Baixa Idade Média (séculos XI – XV), responda às questões abaixo.

a-      Explique a crise do sistema feudal no século XI
Resposta:  No século XI, com o fim das invasões, a Europa conheceu um período de estabilidade, o que possibilitou o crescimento da população e o aumento da circulação de mercadorias. Esse mercado consumidor entrou em conflito com a baixa produtividade do trabalho servil. Submetidos a novas obrigações, os servos fugiam ou eram expulsos dos feudos, o que provocou o rompimento das relações servis de produção, base da economia feudal.
Além disso, os senhores feudais passaram a deixar o feudo como herança apenas ao filho mais velho. Os demais tinham de buscar outras formas de sobrevivência, como casamento vantajoso, sequestro ou assalto.
b-      O que foram as cruzadas?
Resposta: Foram expedições militares organizadas pela Igreja e pelos reis, para expulsar os muçulmanos da Terra Santa.
                                  

6) Acerca das cruzadas e seus fundamentos, responda às questões abaixo.

a-      Que condições históricas possibilitaram o movimento das cruzadas?
Resposta: Com a crise do feudalismo, havia um contigente de homens dispostos a enfrentar o risco da aventura militar em terras desconhecidas, motivado pelo desejo de conquistar terras e enriquecer e pelo espírito religioso.
b-      O que motivou a realização das cruzadas?
Resposta: Os fatores que motivaram a realização das cruzadas foram: econômicos – a possibilidade de enriquecimento para os participantes, pela conquista de novas terras; religiosos – combater os infiéis era garantia de salvação eterna.

7) Qual foi o papel das cruzadas na dinamização do comércio europeu?

Resposta: As cruzadas possibilitaram o comércio pelo Mediterrâneo, fizeram entrar em circulação produtos orientais, importados dos portos do Mediterrâneo oriental pelas cidades italianas, aumentaram a circulação de moeda, estimularam o espírito de risco em busca de lucro.

8) Qual o impacto, sobre o feudalismo, do desenvolvimento comercial trazido pelas cruzadas?


Resposta: Estimulados a consumir novos produtos, os senhores foram obrigados a aumentar suas rendas, produzindo para o mercado urbano. Passaram, então, a transformar os servos em homens livres, que arrendavam as terras com base em contratos. Dessa forma, o impacto do desenvolvimento comercial orientou as formas de transformação do sistema feudal.